terça-feira, 19 de julho de 2011

Vestígio

Ana Medienta
“Uma única folha desprendeu-se do olmo na esquina e, em meio a pausa e silêncio total, caiu. De algum modo, foi como se caísse um sinal, um sinal que apontasse para uma força nas coisas que havia passado despercebida. Pareceu apontar para um rio que corria, invisível, do outro lado da esquina, descendo a rua, e que levava as pessoas e as girava em redemoinhos...

Nesse ponto, escutei, toda ouvidos, não exatamente o que estava sendo dito, mas o murmúrio ou correnteza por trás. Sim, era isso — ali estava a mudança. Antes da guerra, num almoço como esse, as pessoas diriam precisamente as mesmas coisas, mas elas teriam soado diferente, pois, naqueles dias, eram acompanhadas de uma espécie de cantarolar, não articulado, mas musical, excitante, que alterava o valor das próprias palavras. Seria possível pôr em palavras aquele cantarolar? Talvez sim, com a ajuda dos poetas”.


Virgínia Woolf

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Digestivo 2

Sempre chega um dia onde percebes o que é um círculo. Um círculo é onde os componentes se respeitam. Onde as partes se conhecem. Onde um olhar chega para perceber o que está bem, o que está mal. Um círculo é onde há lugar para crescerem vidas. A tua vida. O círculo não é apenas o que está próximo. É o que está dentro. E até o que está dentro pode estar em muitos lugares.

Sempre chega um dia onde percebes que o teu círculo é muito pequeno. E depois um outro dia, onde encaras que o teu círculo é ainda mais mínimo. Inspiras forte, piscas os olhos. Custa-te um pouco. Mas segues em frente.

Luís Felipe Cristóvão