segunda-feira, 6 de junho de 2011

Oficina Residência Taanteatro 2009


Durante muito tempo acreditei que a dança só acontecia no corpo. Que do corpo dependia o dançar... Mas eu dançava tanto na cabeça... Eu imaginava, inventava e quando via, já estava a dançar. Dançava com sílabas, compunha frases soltas, comia as palavras para que elas começassem novamente a pulsar, a fazer urgência no corpo... E o corpo? Esse era também inventado. Às vezes era letra, gozo, vazio, medo e, finalmente, movimento. Talvez seja fato de que a dança (em meu percurso de bailarina) tenha sempre vindo depois. Ou melhor, junto... Com a letra, com a música, com o branco, com a flor colocada em meus pés, com o ritual de passagem, com a passagem. Talvez seja fato que tendo dançando tanto, eu saiba tão pouco da dança... Ela para mim continua uma espécie de enigma, de terreno inexplorado, sempre a me convidar. A tecer uma espécie de cobrança em seu apelo ensurdecedor (mas não posso deixar de dizer, estranhamente prazeroso esse ruído). O canto da sereia...

Da minha experiência com a Maura Baiocchi não posso falar, foi única... Mas me lembro da menina se reinventando, de suas gargalhadas... Aquela que um dia fui eu... Me lembro de chorar diante de tanta liberdade... E de duvidar que ela fosse possível de novo. A mandala.O caminho reencontrado... O tempo redescoberto...

Depois de se tornar bailarina é possível dançar irresponsavelmente?

Acho que não... Talvez não...

Lembro-me dos pés sujos de barro,da argila e de improvisar durante horas... Lembro do afeto, da pentamusculatura, do respiro...

Ai, eu me lembro...

Obrigada Maura, obrigada...